Considerando a enorme quantidade de empresas familiares existente no mundo, a resposta para referida pergunta pode parecer óbvia e positiva para muitos. Isso porque, conforme informação apresentada em recente artigo da revista Harvard Business Review, 85% das empresas mundiais são familiares e, dado relevante percentual, esse deveria ser um bom negócio.
Ocorre que, apesar da enorme quantidade de empresas familiares existentes, esse modelo não é necessariamente a fórmula do sucesso, sendo certo que as brigas familiares, disputas de poder e até mesmo outros problemas particulares de uma família podem arruinar um negócio e até mesmo a família, trazendo problemas pessoais e jurídicos por muitos anos.
Entretanto, apesar dos casos de insucesso, vale destacar que muitas empresas familiares, quando bem administradas e com uma governança empresarial e familiar bem definida, tem sim todas as condições para alcançar o sucesso e a perpetuação por gerações.
Uma grande vantagem da empresa familiar em relação às demais está na agilidade da tomada de decisões, o que lhes traz uma grande vantagem competitiva para situações corriqueiras. Mas nesse caso, importante destacar que é essencial que o membro ou membros da família encarregados de tomar as decisões estejam preparados para tanto, sob pena de também levar a empresa ao insucesso.
Outro ponto que merece grande atenção é a escolha do tipo societário, juntamente com as regras societárias delimitadas no instrumento de constituição principalmente para entrada e saída de herdeiros no quadro social da sociedade. Nesse aspecto, a título exemplificativo, há diversas opções: i) há famílias em que qualquer membro pode se tornar proprietário do negócio e participar da tomada de decisões; ii) outros permitem a entrada de qualquer membro como proprietário, mas um único membro ou subconjunto de membros toma as decisões; iii) em outras a propriedade é restrita aos membros que trabalham ativamente na empresa; ou iv) a propriedade da empresa é transferida para somente um membro da família, devendo os demais membros da família serem indenizados pela parte da empresa que seria a eles devida em decorrência da herança legítima.
A decisão do melhor modelo varia de acordo com cada família e, geralmente é uma decisão muito difícil. Mas independente do modelo, o foco deve ser a preparação das futuras gerações que assumirão o negócio, definindo-se quais os papéis que cada membro da família desempenhará, como serão preparados e, no caso de mais de um membro ser encarregados de tomar as decisões conjuntamente no futuro, é essencial que se avalie se os membros são preparados tecnicamente, próximos e se respeitam suficientemente para referida atuação conjunta.
Além disso, é importante a delimitação da forma de comunicação das informações da empresa pelos membros que administram o negócio para aqueles que são somente proprietários, longe da administração, sendo muito utilizado por famílias empresárias o Conselho de Família para facilitar referida comunicação. Nesses casos, a atuação do Conselho de Família e o conhecimento das regras de governança familiar e empresarial por todos os membros são fundamentais para evitar conflitos e questionamentos desnecessários.
Também é notado em diferentes empresas familiares uma cultura empresarial muito forte e com traços marcantes do perfil empresarial dos fundadores, muito positiva para o desenvolvimento do negócio, mas referida característica pode restringir a inovação e retenção de talentos que acabam sendo atraídos por empresas inovadoras do mercado.
Finalmente, vale sempre lembrar que a “passagem do bastão” pelo líder de uma empresa familiar não é um processo simples e deve ser tratado com grande atenção, sendo certo que atrasar ou planejar mal referido processo pode significar a ruína do negócio e da própria família. Por isso, um adequado projeto de Perpetuação Patrimonial é essencial para as famílias empresárias.